domingo, 6 de junho de 2010

Uma viagem

O presente é um fluxo contínuo, ou melhor, é o entrelaçar do futuro com o passado.
O que está por vir escoa por meu corpo e já se transforma no que foi.

Nada está parado.

Revejo Clarice, repenso o seu 'instante já' estático,
pois, se meus olhos vêem a luz de uma estrela morta há milhões de anos,
o que me parece presente, na verdade já não existe mais.

Então tento encontrar um jeito de congelar o tempo, ou talvez estender este entrelaçar na tentativa de segurar a minha própria existência.
Mas o tempo é cruel... ele escoa à revelia.
E tudo corre no seu leito em disparada.
Nem mesmo a memória, a cada vez que a consulto, é a mesma.
Quando a evoco, como se desse um salto a minha frente, se transforma noutra experiência...
E, assim, se revela sob novos signos.
E assim, se renova num passado mais próximo.

E o presente?
A ilusão de poder possui-lo me condena ao abandono de mim mesma, se é verdade que eu mesma sou escoamento.
Paula Ubinha

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