quarta-feira, 30 de junho de 2010

sim e não e...


Sim e Não e...

Se sim ou se não, quem diz?
O coração deseja.
A razão explica e defende
e complica e pondera...
O coração ainda deseja.
A razão explica e defende
e justifica a quimera...
O coração anseia.
A razão explica e defende:
ai quem me dera...
A razão insiste no que era.
O coração abnega.
Então,
O coração explica e defende
e complica e pondera...

Paula Ubinha







domingo, 13 de junho de 2010

Nietszche

"O corpo diz para o seu eu: sinta dor aqui!
Então, o eu sofre e pensa em como parar de sofrer. E é isso que faz pensar.
O corpo diz para o seu eu: sinta prazer aqui!
Então, o eu sente prazer e pensa no que fazer para ter de novo o prazer.
E é isso que o faz pensar."
(Nietszche)

domingo, 6 de junho de 2010

Uma viagem

O presente é um fluxo contínuo, ou melhor, é o entrelaçar do futuro com o passado.
O que está por vir escoa por meu corpo e já se transforma no que foi.

Nada está parado.

Revejo Clarice, repenso o seu 'instante já' estático,
pois, se meus olhos vêem a luz de uma estrela morta há milhões de anos,
o que me parece presente, na verdade já não existe mais.

Então tento encontrar um jeito de congelar o tempo, ou talvez estender este entrelaçar na tentativa de segurar a minha própria existência.
Mas o tempo é cruel... ele escoa à revelia.
E tudo corre no seu leito em disparada.
Nem mesmo a memória, a cada vez que a consulto, é a mesma.
Quando a evoco, como se desse um salto a minha frente, se transforma noutra experiência...
E, assim, se revela sob novos signos.
E assim, se renova num passado mais próximo.

E o presente?
A ilusão de poder possui-lo me condena ao abandono de mim mesma, se é verdade que eu mesma sou escoamento.
Paula Ubinha

Musa


Na sala converso e despejo o verbo

dos desejos que não sei, do poeta que despertei.

É bem certo que a dor faz a vez na inspiração,

É bem certo que a dor vela a lágrima e o riso.

Mas,

nos meus dias concisos, é a mim a quem procuro.

E a cada passo que revelo vejo

que não é tua a minha cor,

que não é minha a tua dor.

Embora deseje um pouco deste que desperto sem meu beijo,

fico só e me preocupo

se é sim ou se é não a palavra que recito.

Busco, vasculho...

posso sim morrer afogada,

temo sim este mergulho escuro,

fico então desajeitada, de bochechas rosadas,

ou apenas,

presa na dúvida certa que se faz dor.

(Paula Ubinha, julho/2009)
Imagem: Matisse. Estudo de Nu, 1906. Xilogravura.